AO MESTRE, COM CARINHO
(*
Antonio Carlos Arruda)
Sou de um tempo
em que se praticava civismo nas escolas. Éramos motivados a sermos patriotas.
Cantávamos o
Hino Nacional, o Hino à Bandeira, o Hino da Proclamação da República e o
fazíamos com reverência,em posição de sentido, com a mão direita sobre o peito.
Não raro
lágrimas desciam dos nossos olhos, nas datas especiais, onde desfilávamos
orgulhosamente ostentando o uniforme da escola, marchando com vigor, sob o som
das fanfarras. Aliás, vestir o garboso uniforme da fanfarra era privilégio de
poucos.
Sem falar das nossas
balizas que nos maravilhavam, despertando paixões desenfreadas nos nossos
corações adolescentes e sonhadores.
Sou de um tempo
em que subíamos ordenadamente e em fila para as salas. Já na classe, nos
levantávamos para saudar o (a) professor (a) quando entrava para dar início às
aulas.
Era um tempo de respeito,
de regras muitas das vezes rígidas, mas era um tempo em que os valores eram estimulados
e a dignidade valorizada.
A simples ameaça
por parte do professor, de mandar um aluno para a diretoria, era o suficiente
para sossegar o ânimo dos mais indisciplinados.
Quando o (a)
professor (a) cruzava os braços e olhava em direção a um aluno, se este
estivesse fazendo algo errado, na hora parava, diante do olhar indignado de
todos os demais alunos da classe.
Não tínhamos
medo dos professores, mas respeito, admiração, e por alguns deles
alimentávamos um carinho especial.
Nas festinhas da
escola, era comum os professores ficarem rodeados dos seus alunos, cada um
querendo desfrutar de um pouco de atenção.
Não raro, levávamos
presentinhos como frutas, flores e os mais corajosos, arriscavam até mesmo a
escrever bilhetinhos com declarações de afeto aos queridos (as) mestres (as).
Sou capaz de me
lembrar o nome de todos meus professores do primário. Profa. Natalina, no
primeiro ano, Prof. Alberto Ruy Cotrim no segundo e no terceiro ano, Profa.
Inês no quarto ano.
Depois, no ginásio,
eram muitos deles, dos quais me lembro com muita saudade e carinho do meu
professor de português, Prof. Nicolino Ferrari, que dava aulas de terno e
gravata e já tinha seus 60 anos de idade.
Estamos falando
da década de 1970/1980, não faz tanto tempo assim!
De lá para cá
muita coisa mudou para melhor. A tecnologia avançou cem anos a cada década.
Estamos na época da globalização, da Internet, do acesso ao computador de forma
facilitada.
O progresso veio
de forma avassaladora nas últimas décadas, mas infelizmente, na contramão, os
valores foram deixados para trás.
Os mestres de hoje,
que nutriam profundo respeito e admiração pelos seus mestres do passado, não
desfrutam mais do mesmo tratamento.
Ser professor
(a) neste país tornou-se um verdadeiro sacerdócio!
A falta de
respeito começou pelos governantes, que há décadas vem relegando a categoria ao
mais absoluto ostracismo, por falta de políticas de capacitação e de valorização,
sobretudo por deixar de oferecer remunerações condizentes com a
responsabilidade e importância do cargo.
Na sala de aula,
os modelos (supostamente ultrapassados, do também suposto autoritarismo), deram
lugar não à liberdade, mas à libertinagem, onde os alunos, sem noção de limites
(que na verdade deveriam ser impostos pelos pais), se julgam no direito de
fazer o que bem desejam, atropelando toda e qualquer regra que seja implantada.
Vivemos uma
época de inversão de valores, onde uma juventude transviada (aqui no sentido
lato da palavra), sem limite, sem noção de valores (como educação, cortesia,
respeito ao próximo), se juntam e em bandos (como selvagens) promovem pancadarias,
depredações de patrimônio público e desrespeito a qualquer tipo de autoridade.
É impossível ser
professor hoje em dia sem correr o risco de ser agredido pelos alunos (eu disse
alunos?), simplesmente por repreendê-los diante de uma atitude inadequada em
sala de aula.
E o pior, ai do
professor que esboçar qualquer tipo de reação!
Por definição
ele passará de agredido a agressor, enquanto o verdadeiro agressor sairá ileso,
ostentando a fama de ser “o bom” e ainda fazendo chacotas sobre a situação.
E a realidade é
que para os governantes, quanto mais ignorante e sem preparo for a população, mais
fácil será a manipulação, por isso não se mobilizam para conter este descalabro
que cada dia nos assusta mais.
Você professor,
você professora, são dignos de todo nosso respeito, de toda nossa admiração.
Não fosse seu idealismo, seu amor à causa, não fosse sua dedicação abnegada à
este nobre desafio, enfrentando todas as vicissitudes da profissão, que seriam
daqueles que são exceção nesta triste regra que acabamos de expor?
*Antonio Carlos
Arruda é administrador de empresas, comunicólogo, preservacionista ferroviário,
radioamador e escritor. Casado, 51 anos, 3 filhos, reside atualmente na cidade
de Belo Horizonte-MG.
Para contatos:
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